A CARIDADE SEGUNDO SÃO PAULO
O
COMPROMISSO COM A CARIDADE
Ainda que eu falasse as línguas dos homens
e dos anjos, se não tivesse caridade, seria como o bronze que soa ou o címbalo
que retine.
Ainda que eu tivesse o dom de profecia e
conhecesse todos os mistérios de toda a ciência; ainda que eu tivesse toda a fé,
de maneira tal que transportasse os montes, se não tivesse caridade, nada
seria.
E ainda que distribuísse todos os meus bens
para o sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu próprio corpo para ser
queimado, se não tivesse caridade nada disso me aproveitaria.
A caridade é paciente, é benigna, a
caridade não é invejosa, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se
conduz inconvenientemente, não busca seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se
alegra com a injustiça, mas rogozija-se
com a verdade.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo
suporta.
A caridade nunca falha; mas havendo
profecias, serão aniquiladas, havendo línguas, cessarão; havendo ciência,
desaparecerá; porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos.
Quando, porém, vier o que é perfeito, então
o que conhecemos em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino,
sentia como menino, pensava como menino, quando chequei a ser homem, desisti
das coisas próprias de menino.
Porque agora, vemos como em espelho,
obscuramente, então veremos face a face; e o que agora conhecemos em parte,
então conheceremos em todo como somos por Deus conhecidos.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e
a caridade, destas três, porém, a maior delas é a caridade.
1ª
Epístola aos Coríntios capítulo 13
A
caridade como a entendia Jesus.
P. 886 – Qual o verdadeiro sentido da
palavra caridade, como a entendia Jesus?
R. “Benevolência
para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, e perdão das
ofensas”.
“Benevolência para com todos” significa o ato de boa vontade de fazer o bem para todos, inclusive
para quem o pratica, porque, se o bem não começa dentro de nós é ilusão
acreditarmos que o faremos fora de nós.
A Indulgência é a virtude que nos leva
a ver o outro com misericórdia, tolerando as suas limitações sem lhes exigir a
perfeição que não têm e que também não temos. Por isso, a indulgência surge da
benevolência para com todos, inclusive para conosco,
O Perdão das
Ofensas é a culminância da benevolência e da indulgência, é uma consequência
natural dessas virtudes. Se exigirmos perfeição dos outros, vamos ficar
magoados e ressentidos com as suas atitudes equivocadas; contudo, se formos
benevolentes e indulgentes, seremos tolerantes e não alimentaremos o ofensor
interno que nos gera a mágoa e o ressentimento.
A perfeita
identidade entre os conceitos de Jesus e Paulo de Tarso.
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos
anjos, se não tivesse caridade, seria como o bronze que soa ou o címbalo que
retine.
Paulo começa falando sobre as línguas dos
homens e dos anjos. Ele era um especialista no assunto, pois, poliglota, falava
o grego, o latim, e o hebraico, dentre outras línguas e dialetos.
As línguas dos homens são permanentes ou
são transitórias?
São transitórias, tanto que a língua mais
falada naquela época, o latim, hoje é considerada uma língua morta.
Qual é a língua dos Anjos, dos Espíritos
iluminados?
É a língua do pensamento, que expressa o amor.
Existem pessoas que usam da caridade para
fazer barulho?
Sim e Allan Kardec destaca, inclusive, um
capítulo inteiro sobre isso em O Evangelho Segundo o Espiritismo. “Não saiba vossa mão esquerda o que dê a
vossa mão direita”, exatamente porque muitas pessoas, em nome da caridade,
fazem mais barulho do que realmente caridade.
Portanto, esse
versículo expressa que de nada vale a intenção de se ter sentimento elevado, se
for apenas para fazer barulho, pois, nesse caso, não há verdadeiramente
caridade, não há amor.
Ainda que eu tivesse o dom de profecia e conhecesse
todos os mistérios de toda a ciência; ainda que eu tivesse toda a fé, de
maneira tal que transportasse os montes, se não tivesse caridade, nada seria.
Ter o dom da profecia
é ter a capacidade mediúnica de transmitir os ensinamentos dos Espíritos,
dentre as quais a capacidade de previsão do futuro.
Mas o dom da profecia, sem caridade, o que
gera?
Gera charlatões que abusam da credulidade
das pessoas em práticas muito comuns na época do apóstolo Paulo.
Conhecesse todos os mistérios e toda a ciência. O que ele está simbolizando com isso? O que é conhecimento de todos
os mistérios e de toda a ciência?
Em um planeta de expiação e provas, a
ciência humana tem a pretensão de conhecer a realidade da vida, mas diante de
um Universo incomensurável e da realidade espiritual, o conhecimento científico
que temos hoje, é uma quimera, o era ainda mais na época de Paulo.
Se
não tivermos caridade, o que vai acontecer?
Essa mesma
ciência será usada contra a Humanidade.
Fé, de maneira
tal que transportasse os montes.
Qual o significado disso?
O de que a fé sem caridade é morta em si
mesma, e o de que fé significa confiança.
Uma pessoa muito autoconfiante, mas sem
amor, isto é, sem caridade direcionando essa confiança, pode usar essa
confiança contra si mesma e contra o seu próximo, tornando-se arrogante.
É necessário que tenhamos fé, confiança,
mas norteadas pela caridade, pelo amor a nós mesmos e pelo amor ao nosso
próximo, para nos sintonizarmos com Deus.
A fé verdadeira
é resultado da confiança em nós mesmos, em Deus e na vida, somente sendo
possível se houver caridade.
E ainda que distribuísse todos os meus bens para o
sustento dos pobres.
Uma atitude dessas, de distribuir todos os
bens para o sustento dos pobres, não seria uma grande coisa?
Não, se agirmos sem ter caridade.
A mera distribuição de bens materiais gera a
transformação do Espírito imortal?
Muda a miséria moral, que é geradora da
material?
Não. Mas por que não muda?
Porque nisso não há caridade, como está
claro nesse versículo profundo da epístola.
A caridade não
é o ato de dar, mas o de doar-se juntamente com aquilo que se dá, sempre em
concordância com a ética cristã.
E ainda que entregasse o meu próprio corpo para ser
queimado.
Hoje não temos mais os martírios físicos
tão comuns na época do Cristianismo nascente; atualmente, aqueles que se lançam
no mundo como fieis servidores de Jesus sofrem martírios morais. Se fizermos
isso, mas se em nós não houver caridade, não estaremos nos elevando
verdadeiramente até Deus.
O apóstolo, ao
fazer essas comparações, está ensinando que mesmo em situações extremas nossa
ação de nada adiantará se não for acompanhada da caridade, do ato benevolente
real.
A caridade é paciente, é benigna, a caridade não é
invejosa, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se conduz
inconvenientemente, não busca seus interesses, não se exaspera, não se ressente
do mal.
Podemos, com trocadilho, dizer que a
paciência é a ciência da paz, a ciência que pacifica. Muitas pessoas buscam
realizar atividades assistencialistas, confundidas com a caridade, para
diminuir a ansiedade de consciência que mantêm devido à culpa que carregam
dentro de si. Perguntemos, porém: é possível uma pessoa com ansiedade de
consciência nutrir a paz? Não! A pessoa que age assim procura disfarçar essa
ansiedade de consciência, buscando a paz externa por meio da atividade
assistencialista, mas não há como a conseguir dessa forma, pois a paz real, a
interna, somente será conquistada, como vimos, a partir da caridade, do amor-ágape.
(Ágape, foi traduzida em
português como caridade. Em grego, significa amor, no sentido mais
transcendente possível. Todos nós somos convidados a praticar esse amor no
sentido mais profundo. No vocabulário cristão, ágape é o amor que move à
vontade na busca efetiva do bem de outrem, em uma identificação com amor de
Deus. Pode-se também utilizar uma palavra composta para defini-lo melhor:
amor-caridade. O amor-ágape, o amor-caridade é esse desejo de que todas as pessoas
sejam felizes como nós o queremos ser. É a síntese de dois preceitos cristãos:
Amar ao próximo como a si mesmo e fazer aos outros aquilo que gostaria que
fosse feito a si.)
Por isso, a caridade é paciente, isto é,
somente a pessoa que realiza a pacificação interior será capaz de pacificar o
exterior.
A
caridade é benigna, pois é benevolente, como dizem
os Benfeitores a Allan Kardec, significando que aquele que a desenvolve realiza
o bem no limite de suas forças.
Como saber qual é o limite das nossas
forças?
Para que saibamos o limite das forças só
existe um caminho: o autoconhecimento, para que possamos identificar nossos
potenciais, nossas limitações e as possibilidades de superá-las para realizar
todo o bem que realmente pudermos.
A
caridade não é invejosa. Decerto, pois a inveja é
um sentimento egoico extremamente infeliz. O invejoso, assim como o ciumento,
está centrado nos outros.
Comparando-se com os outros e sabendo que
não alcançará a mesma posição, deseja o que possuem ou que percam aquilo que
conquistaram pelos próprios méritos, a fim de caírem, voltando a uma posição
análoga à sua.
Já o caridoso né é invejoso e nem ciumento,
porque está centrado no amor a si mesmo, esse amor-ágape, real, que não impõe
condições para servir.
A
caridade não se ensoberbece. De fato, a soberba é o
orgulho se manifestando, e aquele que deseja aparecer pelos seus atos de
caridade, na verdade se afasta da verdadeira virtude, da qual a soberba é a
antítese.
A
caridade não se conduz inconvenientemente. Que
inconveniência é essa? O que é agir de forma inconveniente?
Em relação ao outro, significa não
respeitar o seu livre-arbítrio, como acontece muito nas relações sociais, nas
quais as pessoas se colocam como dona da verdade e passam a ditar normas de
conduta para o outro seguir.
A caridade não se conduz dessa forma,
porque ela é resultado do amor profundo, em ação de transformação. O amor-ágape
nos convida para a transformação de dentro para fora. Não nos é possível
realiza-la de fora para dentro, por isso é inconveniente.
A
caridade não busca seus interesses. Que interesses
seriam esses? Ficar livre de obsessor, ir para colônias espirituais elevadas
etc.
Costumamos ouvir frases deste tipo: Eu vou
fazer caridade, se não vou para o umbral depois que desencarnar. Eu preciso fazer caridade, porque, se
não, não vou ter salvação.
Poderíamos enumerar uma série de “senões”
que revelam interesses puramente pessoais, com os quais a caridade verdadeira
não se coaduna.
Qual é o maior ganho de quem desenvolve a
virtude da caridade?
É a transformação interior, pois tudo o
mais lhe é consequência.
A caridade deve ser sempre desinteressada.
A salvação que Allan Kardec coloca no axioma “Fora de Caridade não há
Salvação” é consequência natural do desenvolvimento da própria
virtude da caridade, no processo de autotransformação da criatura. Quando
desenvolvemos a caridade, a salvação acontece de forma tranquila como
consequência, sem interesse algum.
A
caridade não se exaspera. Se uma pessoa, realizando
o trabalho no bem, se irrita o tempo todo e agride as demais, é porque,
provavelmente, está se obrigando a trabalhar, em vez de e doar com amor ao
serviço, e, por isso, acontece toda exasperação.
Como um trabalho do bem pode gerar o mal do
trabalhador?
Se produz mal-estar para o seareiro, alguma
coisa está errada. Ou o trabalhador está realizando a atividade por obrigação,
ou o trabalho que ele realiza não é do Bem verdadeiro. Isso é muito sério, pois
muitas atividades realizadas hoje nos Centros Espíritas são inspiradas por
Espíritos das sombras, constituindo-se em tarefas de pseudobem, que jamais vão
gerar o bem do trabalhador.
Por isso, os Benfeitores disseram a Allan
Kardec que a caridade é a benevolência para com todos, indulgência e perdão das
ofensas.
Não nos é possível estar o tempo todo
sorridentes e maravilhosos no trabalho, mas é possível fazer esforços de
autotransformação. Quando surge a vontade de nos exasperar por algo que saiu
errado, é nesse momento exato que somos convidados a transformar a irritação,
fazendo esforço para não agredir o companheiro de trabalho, por exemplo. Esse é
um exemplo do exercício a que nos referimos, mas essas atitudes só são
possíveis se refletirmos sobre o significado do trabalho do Bem em nossas
vidas, pois é por meio dele que iremos nos autotransformar.
A caridade não se ressente do mal, porque é o bem por excelência, e o bem não se ressente do mal,
porque o bem é luz. Ao luzir, por si mesmo, o bem desfaz do mal.
Não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a
verdade
A injustiça surge pelo afastamento do Reino de Deus. Qual é a justiça maior?
É a justiça do amor, conforme nos ensina Jesus:
“Buscai
o Reino de Deus e a Sua Justiça e tudo o mais nos será acrescentado.”
A
caridade regozija-se coma verdade. A verdade e a
caridade andam sempre juntas de mãos dadas. Se soubermos que algo se constitui
em uma mentira, tomemos consciência de que se compactuarmos com essa mentira,
estaremos nos comprometendo.
Como é triste alguém se comprometer com a
mentira para adquirir; por exemplo, recursos financeiros para realizar
atividades nos Centros Espíritas em nome do Bem Maior.
Que trabalho do
bem é esse que se compromete com a mentira? É preferível fazer menos filantropia
a comprometermo-nos com a mentira para angariar recursos materiais, porque a
caridade se regozija, apenas com a verdade.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
Quando agimos,
crendo que somente os ideais de amor, os ideias sinceros nos transformam em
pessoas melhores, estamos verdadeiramente praticando a caridade que tudo
suporta.
A caridade nunca falha, mas, havendo profecias, serão
aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerão; porque,
em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos.
As profecias
são transitórias, já a caridade permanece sempre. O latim, era a língua mais
falada na época de Paulo, e hoje não existe mais. Da ciência daquele tempo,
somente alguns rudimentos ainda subsistem. O certo é que o conhecimento da
realidade da vida ainda é muito parcial, diante de todo um Universo
incomensurável.
Quando, porém, vier o que é perfeito, então o que
conhecemos em parte será aniquilado.
O que é perfeito que irá surgir?
Nosso Cristo interno, a Essência Divina que
todos nós somos.
Nós estamos reencarnados para nos
aperfeiçoar. Por isso, o exercício da caridade salva, porque nos aperfeiçoa,
sou seja, faz surgir o que é perfeito.
A caridade que
salva, é exatamente a transformação da sombra, que existe em nós, em luz. Esse
aperfeiçoamento acontece gradativamente, mas chegará o momento em que nos
tornaremos Espíritos Crísticos, com uma perfeição relativa.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como
menino, pensava como menino, quando chequei a ser homem, desisti das coisas
próprias de menino.
O menino é símbolo
da ignorância. O apóstolo Paulo não está se referindo ao aspecto físico do
menino, mas à sua incapacidade de entender as questões fundamentais da vida.
Quando amadurecido e adulto, com maior capacidade de entendimento da realidade
da vida, o ser desiste da infantilidade e passa a buscar o conhecimento da
Verdade Universal para se autotransformar.
Porque agora, vemos como em espelho, obscuramente,
então veremos face a face; e o que agora conhecemos em parte, então
conheceremos em todo como somos por Deus conhecidos.
Quando estamos na postura de menino, vemos
somente reflexo das coisas, conhecendo-as em parte; porém quando passamos a
desenvolver as virtudes latentes em nossa Essência Divina, principalmente o
amor-ágape, a caridade e o amor incondicional, veremos face a face a nossa
própria essência, aquilo que estamos buscando em termos de salvação – a
transformação interior. Somente com a evolução espiritual passaremos a conhecer no todo como somos por Deus
conhecidos.
A pratica da
caridade é esse movimento que nos leva a desenvolver, ao longo do tempo, o
aperfeiçoamento gerador da pureza espiritual, conquistando tudo aquilo que nós
já somos para Deus – Espíritos puros. É esse processo que Kardec coloca como a
salvação pela Caridade.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a
caridade, destas três, porém, a maior delas é a caridade.
Por que a maior dessas virtudes é a
caridade?
A caridade é a maior porque é ela que dá o
direcionamento, tanto para a fé, quanto para a esperança. Na verdade, todas as
virtudes são direcionadas a partir do amor-ágape, o amor-caridade.
Quando
verdadeiramente nos propomos a desenvolvê-la em nossos corações, o resultado
será a salvação. Nós nos tornaremos pessoas melhores e, por isso, renunciamos a
nós mesmos em prol do próximo. Inicialmente, renunciamos a favor do próximo
mais próximo, para depois ir alargando as possibilidades, até chegarmos a
renunciar em prol da Humanidade inteira, amando e servindo como Jesus, que nos
convida a encontrar Deus a partir d´ele, que é o Caminho para a Verdade e para
a Vida, que nos conduz a praticar a caridade essencial.
Fonte: Livro – O Legado de Paulo de Tarso
ao Cristianismo Redivivo (Alírio de Cerqueira Filho)
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