AS JANELAS DA MEMÓRIA



O ARMAZÉM DE INFORMAÇÕES

Definição

As janelas da memória são áreas de leitura da memória num determinado momento existencial. São arquivos em que o Eu, o gatilho e o autorefluxo se encontram  para ler, utilizar as informações e construir o mais incrível dos fenômenos: o pensamento.

Nos computadores, temos acesso a todos os campos da memória digital; na memória humana, temos acesso a áreas específicas, que chamamos de janelas. Uma janela é como se fosse uma residência. Cada residência tem características básicas que a definem, como arquitetura, espaço, quadros, roupas, eletrodomésticos. Do mesmo modo, as janelas da memória têm centenas ou milhares de informações que as caracterizam.



Deslocamento da personalidade

A intencionalidade não muda a personalidade. É provável que todos nós, cedo ou tarde, já tenhamos tentado mudar alguma característica doentia da personalidade e falhado. Até psicopatas tentam se refazer em algum momento, mas falham. Existe um consenso na psicologia de que a personalidade não muda. Na realidade, esse consenso, que alguns consideram uma tese, não tem fundamento, não se sustenta. A personalidade não é rígida, não é linear; ela está em processo de mudança, ainda que seja na forma de micro transformações. A personalidade se desloca ou se transforma quando se muda a base das janelas da memória e quando o Eu é equipado para ser líder de si mesmo.

Os ataques de Pânico, por exemplo, têm grande chance de deslocar a formação da personalidade, porque formam janelas Killer* poderosas, encarcerantes , capazes de construir um núcleo de habitação que sequestra o Eu. A pessoa que vivenciou uma síndrome do pânico (ataques repetidos pelo menos uma vez por semana) nunca mais será a mesma. Poderá se tornar um ser humano muito melhor, mais dosado, sereno, altruísta, após a superação da síndrome, mas as mudanças estruturais da personalidade indicam que sairá do processo diferente. Uma pessoa que passou por uma guerra e vivenciou atrocidades sairá com deslocamentos importantes em sua personalidade.



A intencionalidade do Eu não muda a personalidade

Se a personalidade é mutável, por que então, não é fácil mudar características doentias como o mau humor, impulsividade, baixo limiar para frustações, timidez? Porque a intenção ou o desejo de mudança produz uma janela solitária e, além disso, frequentemente “pobre”, com poucos recursos.

Uma característica da personalidade precisa de um núcleo de habitação do Eu, uma plataforma de janelas, um “bairro” todo na cidade da memória para ter sensibilidade, enfim, para ser encontrada espontaneamente pelos fenômenos inconscientes, com o gatilho da memória.

Uma pessoa é tímida ou ousada não porque seu Eu o determina, mas porque há milhares e milhares de janelas espalhadas nos campos de sua memória. O impulsivo, do mesmo modo, tem imensas plataformas de janelas em seu córtex cerebral que são facilmente encontradas e o levam a reagir do modo bateu-levou.



Dependentes de drogas

Quem é dependente de drogas não se torna um encarcerado pela droga química em si, mas pelo arquivamento das experiências que tem com ela. Com o passar do tempo, o problema não é mais a substância psicoativa, mas a masmorra construída dentro do Eu, financiada pelas inumeráveis janelas killer espalhadas por sua memória.

Pessoas dependentes recaem com facilidade porque, ainda que tenham tido sucesso num tratamento, na realidade reeditaram apenas uma parte das janelas traumáticas que contêm a representação da droga. Outras janelas doentias permanecem “vivas”, capazes de ser encontradas durante um foco de tensão e financiar uma nova compulsão.

Existe um conceito falso de que um dependente de drogas ou álcool será dependente a vida toda – essa é, inclusive, uma das proposições dos Alcoólicos Anônimos (AA) e de muitos psiquiatras. Em tese, é possível, sim, deixar de ser dependente. Para isso, é preciso reeditar  todas as janelas traumáticas ou killer, o que é uma tarefa difícil, pois elas não aparecem durante o tratamento.

Embora o conceito seja falso (de que o dependente será sempre dependente), ele é útil para o Eu viver sempre em estado de alerta, pois numa crise, perda ou frustações o gatilho da memória poderá encontrar as janelas doentias que ainda não foram reeditadas. E, nesse caso, se o Eu não proteger a emoção nem gerenciar seus pensamentos, poderá recair e se autodestruir novamente. Se o Eu for conscientizado sobre as armadilhas da mente e equipado para pilotá-la, poderá, em vez de se punir e autodestuir, usar a recaída para dar uma nova chance para si mesmo, ser mais seguro e reescrever as janelas que o enredaram.  



O sonho é construir bairros na memória

Usando a metáfora da cidade, são os bairros, e não as residências solitárias, que definem e representam as características da personalidade. A maioria dos seres humanos leva para o túmulo as características da sua psique que mais detestam porque não constroem uma agenda para “reurbanizar” os bairros da sua memoria que contêm esgoto a céu aberto, praças mal iluminadas, ruas esburacadas, casas em ruínas.

Essas pessoas não sabem que, apesar do desejo efetivo de mudança, estão produzindo janelas solitárias, as quais, quando atravessam um foco de tensão, ficam inacessíveis. Nem o Eu e muito menos o fenômeno do gatilho da memória se encontram; portanto, não conseguem dar sustentabilidade às mudanças que desejam.

Tais pessoas vivem prometendo para si e para todos que vão mudar, que serão mais pacientes, seguras, proativas, generosas, afetivas, autocontroladas. Algumas choram e entram em desespero, mas continuam as mesmas. Não entendem que a maturidade psíquica não exige que sejamos heróis, mas seres humanos com uma humildade inteligente, capazes de reconhecer nossa pequenez e imaturidade e construir uma nova estratégia, uma plataforma de janelas saudáveis, um novo “bairro” em nossa memória. O heroísmo deve ser enterrado.

O grande desafio do ser humano é abrir o máximo de janelas num determinado momento existencial para raciocinar com maestria. Entretanto, infelizmente, se encontramos janelas traumáticas, podemos experimentar a Síndrome do Circuito Fechado da Memória e impedir o acesso do Eu a milhões de dados. Essa síndrome nos faz reagir instintivamente, como animais irracionais, e, desse modo, leva-nos a ser vítimas de ataques de raiva, ciúme, fobias, compulsão, necessidade neurótica de poder, de controle dos outros, de perfeição.

Que estratégia você usa para ser autor da sua história?

*(para saber mais sobre as janelas da mente leia em : https://ceufeatitudedeamor.blogspot.com/2019/03/as-tres-janelas-da-mente.html)

Texto de Referência
Livro – Ansiedade Como Enfrentar o Mal do Século – 27ª edição cap. 6 pag. 59,  “Augusto Cury”

 

                   


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