O Bom Samaritano
O Bom Samaritano ( Parábolas terapêuticas - Alírio Cerqueira Filho)
Primeiramente,
reflitamos: por que motivo Jesus escolheu um samaritano para simbolizar o
exercício da misericórdia? Jesus escolheu um samaritano, considerado herético
pelos doutores da lei, para oferecer uma lição de sabedoria àquele que O estava
tentando porque havia uma contenda entre judeus e samaritanos.
O
evangelista Lucas referencia que o doutor da lei queria apenas tentar Jesus e,
na verdade, nada desejava aprender, pois se considerava um sábio, e Jesus, um
impostor. Os doutores da lei estavam acostumados à hipocrisia, ao parecer em
detrimento do ser. Jesus, sabendo disso, escolhe, propositalmente, o
samaritano, considerado um herético desprezível, para com ele exemplificar a
misericórdia e proporcionar uma lição ao doutor da lei, que poderia
aproveitá-la naquele momento ou mais tarde, pois as lições de Jesus valem para
a eternidade do tempo.
Jesus
começa dizendo: Descia um homem.
Quem é esse homem? É alguém conhecido? Esse homem poderia ser qualquer pessoa.
Poderia ser rico ou pobre, de condição social importante ou não. Poderia ser
qualquer um, inclusive um sacerdote ou um levita que também estivesse descendo
como os outros dois.
Jericó
fica a 2250 metros abaixo de Jerusalém (considerando o nível do mar). Jerusalém
simboliza o sagrado (princípios superiores, espiritualizados) e Jericó o
maldito (predomínio da inferioridade).
O
significado profundo, transpessoal-consciencial de descer de Jerusalém para
Jericó é o afastamento do sagrado que existe em nós, é, simbolicamente,
escolher um nível mais baixo de consciência, a que chamamos egoico, em vez de
um nível mais elevado, chamado Essencial. Essa descida, significa, portanto,
buscar as questões egoicas da vida, egoísticas e egocêntricas, ir em direção ao
desamor, centrado apenas no seu bem-estar em detrimento dos outros.
Caiu em poder de salteadores...Quando
o homem desce cai em poder de salteadores. Do ponto de vista espiritual
profundo esses salteadores são os próprios sentimentos egoicos negativos que a
pessoa mantém ao descer: orgulho, egoísmo, indiferença, crueldade... Todos
trazemos as leis divinas gravadas na consciência nos convidando ao amor, quando
as descumprimos, descemos consciencialmente, usando nosso livre-arbítrio, surge
então um momento em que essas negatividades se apoderam da pessoa.
Os
salteadores despojam, cobrem de ferimentos e deixam a pessoa semimorta. Pode-se ver esses salteadores tanto no âmbito
externo (espíritos que se aproximam pela afinidade de pensamentos) quanto no
interno (culpa, autocomiseração, escravização aos sentidos) lembrando que sempre o interno que atrai o externo. Quando
descemos pelo caminho do desamor, cultuando o egoísmo e o orgulho egocêntricos
podemos dizer que cedo ou tarde vamos cair em poder dos salteadores, isto é,
esses mesmos sentimentos nos irão despojar e nos deixar semimortos. Como fomos
criados para aprender a praticar o amor a solidariedade, a compaixão, a
humildade, a caridade e outras virtudes, quando descemos consciencialmente e
praticamos ações centradas no desamor, há um movimento da lei de causa e efeito
que nos despoja dos recursos que assim adquirimos. São poucos aqueles que
praticam a ação responsável de assumir as responsabilidades pelos seus erros
para aprender com eles e depois repará-los. Muitas pessoas entram num estado de
consciência maculada, geradora de culpa e remorso que as deixam semimortas.
Aconteceu em seguida que um sacerdote, descendo pelo mesmo
caminho, o viu e seguiu adiante. O sacerdote era a
autoridade máxima em termos de poder e interpretava as leis, no entanto Jesus
nos chama atenção para o fato de em vez de, por consciência, ele estar subindo,
estava na verdade descendo, isto é, praticando o desamor. Estava descendo tão
apressado que viu a pessoa caída e seguiu adiante, demonstrando que seu nível
consciencial estava inferior ao do homem caído que já estava tombado em poder
dos salteadores. O caído já estava colhendo o resultado do egoísmo, e o
sacerdote estava plantando para colheita no futuro.
Um levita, que também veio aquele lugar, tendo-o observado,
passou igualmente adiante. O
levita que também era interprete da lei e deveria estar subindo também
está descendo e demonstra indiferença. Com esses dois símbolos Jesus demonstra
que a prática do e goísmo e das virtudes independem da posição social, tanto o sacerdote quanto o levita estão na
fase de plantio do desamor e por isso ainda não caíram em poder dos
salteadores. O homem caído poderia muito bem ser um levita ou um sacerdote e o
fato de se ver despojado de tudo que tinha simboliza a colheita do desamor
praticado pelo ser.
Mas, um samaritano que viajava... O
samaritano não estava descendo de Jerusalém para Jericó, ele simplesmente
viajava. Isso mostra que o samaritano estava em um outro nível de consciência,
mais elevado, diferentemente do homem caído ou dos outros que estavam descendo.
Chegando ao lugar onde jazia aquele homem e tendo-o visto
foi tocado de compaixão... o sentimento de compaixão
é , pois, filho dileto do amor, enquanto os sentimentos de pena e dó são filhos
do pseudoamor, que tende a avaliar o necessitado como um coitado, para quem
temos obrigação de resolver o problema. A compaixão vê o outro como alguém que
é digno de amor capaz de crescer e evoluir. A compaixão gera solidariedade, por
isso o samaritano vendo o homem semimorto o ajudou a reviver, não cogitou de
quem ele era (classe social, etnia) simplesmente é tomado de compaixão e atende
à necessidade do caído que precisava de ajuda.
Aproximou-se dele, deitou-lhe óleo e vinho nas feridas e as
pensou, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte
tirou dois denários e os deu ao hospedeiro dizendo: trata muito bem deste homem
e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando regressar...
primeiro ele age emergencialmente no sentido de tomar as providências mais
urgentes, depois age para que ele continue recebendo os cuidados necessários
para reviver e retoma seu curso. Não para tudo que estava fazendo para ficar
preso ao outro. Jesus coloca de forma inequívoca que ele retoma a sua viagem,
após prestar o auxílio conforme as suas possibilidades e sem desviar o outro da
realidade que lhe é própria.
Qual desses três te parece ter sido o próximo daquele que
caíra em poder dos ladrões? O doutor
respondeu: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Então, vai, diz Jesus,
e faze o mesmo. O
doutor da lei nem consegue falar a palavra samaritano, devido ao orgulho e
à pretensa superioridade que mantinha. Jesus no entanto lhe faz o convite para
agir da mesma maneira, convite extensivo a todos nós para que nos tomemos de
compaixão e misericórdia pelos necessitados, elevando nossa consciência,
buscando assim, ascendermos em direção ao sagrado em nós mesmos.
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