O SOFRIMENTO
O
sofrimento é um mecanismo patológico que a pessoa se impõe. Ela se apega a dor
e fica envolvida com ela, porque não quer pagar o preço para superar a
situação.
O homem empenha-se, afanosamente, para vencer o sofrimento, que se lhe apresenta como adversário soez. (vil)
Em todas as épocas, ele vem travando uma violenta
batalha para eximir-se à dor, em contínuas tentativas infrutíferas, nas quais
exaure as forças, o ânimo e o equilíbrio, tombando depois em mais graves
aflições.
Passar incólume ao sofrimento é a grande meta que todos perseguem. Pelo menos, diminuir-lhe a intensidade ou acalmá-lo, de modo a poder fruir os prazeres da existência e incessantes variações.
Imediatista, interessa-lhe o hoje, sem visão do porvir.
Para libertar-se desse adversário, a criatura impõe-se outras formas de dor, que aceita racionalmente, por livre opção, não se dando conta do equívoco em que labora.
A dor, porém, não é uma punição. Antes, revela-se um excelente mecanismo da vida a serviço da própria vida.
O sofrimento, portanto, pode e deve ser considerado uma doença da alma, que ainda se atém às sensações e opta pelas direções e ações que produzem desequilíbrio.
Por extensão, pode-se dizer que sofrimento não é imposto por Deus, constituindo-se eleição de cada criatura, mesmo porque, a sua intensidade e duração estão na razão direta da estrutura evolutiva, das resistências morais características do seu estágio espiritual.
É a sensibilidade emocional que filtra a dor e a exterioriza. Com ela reduzida, as agressões de toda ordem recebem resposta de violência e agressividade.
A resignação dinâmica, isto é, a aceitação do problema com uma atitude corajosa de o enfrentar e remover-lhe a causa, representa avançado passo para a sua solução.
É de insuspeitável significação positiva o equilíbrio mental e moral diante do sofrimento, o que consegue por meio do treinamento pela meditação, pela oração, que defluem do conhecimento que ilumina a consciência, orientando-a corretamente.
Análise dos Sofrimentos
Buda ensinava que a única função da vida é a luta pela
vitória sobre o sofrimento. Empenhar-se em superá-lo deve ser a constante
preocupação do homem.
Após tentá-lo mediante o autocontrole mais austero e as disciplinas mais rígidas, o jovem Gautama afastou-se do monastério com alguns candidatos desanimados e foi meditar calmamente, logrando a Iluminação.
Estabeleceu a teoria do 'caminho do meio' para alcançar a paz. Nem mais a austeridade cruel, nem as dissipações comuns, mas o equilíbrio da meditação.
Voltou-se então para a libertação dos homens e estabeleceu as quatro Nobres Verdades:
1) - O sofrimento
Todos os seres estão sujeitos ao sofrimento (velhice,
doença, morte insatisfação etc.
Nos trazem de certa forma a realidade do sofrimento se não temos uma percepção mais profunda se não temos um olhar que vá além do ego para a vida, essa realidade será maior ou mais ou menos intensa de acordo com a forma que apercebamos.
2) - Suas origens
O
sofrimento surge de causas (desejo, cobiça, raiva, ignorância etc.)
Dizendo que muitas outras funções não compreendidas, quando não percebidas traziam sofrimento a criatura humana.
3) - A
cessação do sofrimento
Ao
eliminarmos as causas, o sofrimento é eliminado
4) - Os
caminhos para a libertação do sofrimento.
Praticando o nobre caminho
óctuplo o sofrimento e suas causas são eliminadas.
Caminho Óctuplo
1. Crer retamente: é direcionar o pensamento de forma positiva, edificante, firmando-o em
propósitos saudáveis, que favorecem a realização excelente dos postulados, nos
quais se crê.
2. Querer
retamente: Querer retamente propõe métodos
compatíveis com os objetivos da crença anelada.
3. Falar
retamente: Quando se crê e se quer retamente,
fala-se com a mesma qualidade de intenção, e essas palavras, conforme se refere
o Evangelho, exteriorizam o de que está cheio o coração.
4. Operar (AGIR)
retamente: é o momento da ação. Operar retamente é técnica
de terapia tanto preventiva quanto curadora para o sofrimento. Quem não atua
errado, não tem necessidade de repetir a experiência, refazer o caminho,
ressarcir débitos...
5. Viver
Retamente: Quem age retamente vive retamente. O seu
hoje representa as ações antes realizadas e o seu amanhã defluirá das suas
atividades hoje desenvolvidas.
6. Esforçar-se
retamente: A intensidade do esforço desvela a
qualidade do caráter. Essa força, que decorre do querer, é responsável pelos
resultados das aspirações colocadas na prática.
7. Pensar
retamente: O que se cultiva no pensamento transborda
para a esfera objetiva, constituindo-se elemento existencial no comportamento
humano.
8. Meditar
retamente: Meditar é aplicar a concentração na busca
de Deus, interiormente, com determinação e constância.
O que diz Joanna de Ângelis:
“Ninguém atravessa os caminhos humanos isento dos sofrimentos, que fazem parte da própria constituição orgânica, em face do desgaste a que está sujeita, dos conflitos psicológicos, resultados das vivencias passadas, das injunções (imposição, exigência, pressão) defluentes da vida na Terra.”
Segundo as suas reflexões, o sofrimento se apresenta sob três formas diferentes:
1)
-
O sofrimento do
sofrimento
O sofrimento do sofrimento é resultado das aflições
que ele mesmo proporciona.
A dor macera os sentimentos, desencoraja as estruturas psicológicas frágeis, infelicita, leva a conclusões falsas e estimula os estados da exaltação emocional ou de depressão conforme a estrutura íntima de cada vítima.
Apresente-se sob dois aspectos: Físico e Mental (na imensa área das patologias geradoras de doenças.)
Nesse caso, o sofrimento é como uma doença e resultado dela.
À semelhança do buril agindo sobre a pedra bruta e lapidando-a, as doenças são mecanismos buriladores para a alma despertar as suas potencialidades e brilhar além do vaso orgânico que a encarcera.
2) - O sofrimento da impermanência
A maioria dos sofrimentos decorre da forma incorreta porque
a vida é encarada. Na sua transitoriedade, os valores reais transcendem ao
aspecto e à movimentação que geram prazer.
Esse é o sofrimento da impermanência das coisas terrenas. Esfumam-se como palha ao fogo, atiçado pelo vento, logo se transformando em cinza flutuando no ar.
Para conseguir desfrutar de determinado prazer o indivíduo investe além das possibilidades, constatando, depois, quantas dificuldades tem a enfrentar para manter essa conquista. A luta para possuir um automóvel último modelo expõe-no a compromissos pesados para o futuro. A imaginação estimula-o com a ilusão da posse para averiguar, passado o prazer, que não tem condições para preservar o veículo adquirido, ou os móveis, ou a residência, enfim, tudo quanto é impermanente e brilha com atração apenas por um dia...
Medidas as possibilidades sem sacrifícios, é factível constatar até onde pode aventurar-se, sem os riscos de sofrer dores e arrependimentos tardios.
O sofrimento, portanto, quando se tem dele consciência, é facilmente evitável.
3) - O sofrimento resultante dos condicionamentos.
O sofrimento resultante do condicionamento abarca a
educação incorreta, a convivência social pouco saudável, que propiciam
agregados físicos e mentais contaminados.
A escala de valores, para muitos indivíduos, apresenta-se invertida, tendo por base o imediato, o arriscado, o vulgar e o promíscuo, o poder transitório, a força, como relevantes para a vida. Os seus agregados, sob altas cargas de contaminação, produzem sofrimentos de largo porte.
Ao mesmo tempo, a contaminação psíquica e física, derivadas dos condicionamentos doentios dos grupos sociais e dos indivíduos, promove sofrimentos que poderiam ser evitados.
A irradiação mórbida de uma pessoa enviando à outra energia negativa, termina por contaminá-la, caso esta não possua fatores defensivos, reagentes, que procedam da sua conduta mental e moral edificante.
O homem vive na Terra sob a ação de medos: da doença, da pobreza, da solidão, do desamor, do insucesso, da morte. Essa conduta é resultado de seu despreparo para os fenômenos normais da existência, que deve encarar como processo da evolução.
Herdeiro da própria consciência, é também legatário dos atavismos sociais, dos hábitos enfermos, entre os quais se destacam esses pavores que resultam das superstições, desinformações e ilusões ancestrais, formando os condicionamentos perturbadores.
Conhecer-se, na condição de Espírito imortal em processo evolutivo mediante as experiências reencarnatórias, representa para o homem alta aquisição de valores para compreender, considerar e vencer o sofrimento, que faz parte do modus operandi de todos os seres.
Muitas pessoas advogam que o sofrimento é a única certeza da vida, se compreenderem que ele está na razão direta da conduta remota ou próxima mantida para cada qual.
Pode-se dizer, portanto, que a sua presença resulta do distanciamento do amor, que lhe é o grande e eficaz antídoto.
Interdependentes, o sofrimento e o amor são mecanismos da evolução.
Quando um se afasta, o outro se apresenta. Às vezes, coroando a luta, na reta final, ei-los que surgem simultaneamente, sem os danos que normalmente desencadeiam.
A história dos mártires atesta-nos a legitimidade do conceito.
Acima de todos eles, porém, destaca-se o exemplo de Jesus, lecionado, pelo amor, a vitória sobre o sofrimento durante toda a Sua vida, principalmente nos momentos culminantes do Getsêmani ao Gólgota, e daí à ressurreição...
Fonte: Livro Plenitude cap. I e II - Joanna de Ângelis
– por Divaldo Franco
Esclarecimentos finais:
Ninguém colhe em seara alheia, que não haja semeado,
no que diz respeito aos valores morais. [...] Cada um é herdeiro de si mesmo.
[...] Espírito imortal que é, evolui de etapa em etapa, como aluno em
educandário de amor, repetindo a lição quando erra e sendo promovido quando
acerta. [...] Assim, numa existência dá prosseguimento ao que deixou
interrompido na outra, corrige o que fez errado ou inicia uma experiência nova
[...] O que, porém, não realiza por amor, a dor o convocará a executar.
Joanna de Ângelis – Vida Feliz, Lição LXX.
[...] (Jesus) jamais se reportou à busca do sofrimento
como recurso de salvação. Esse acontece por efeito da conduta humana,
inevitavelmente, não por escolha de cada um.]
J.A. – Autodescobrimento p. 151
Comentários
Postar um comentário