O EXERCÍCIO DO AMOR


O EXERCÍCIO DO AMOR (pág. 77 a 97)


Todos os conflitos surgem devido ao EU IDEALIZADO ser diferente do  EU REAL.

O EU IDEALIZADO é a forma como eu penso que sou; como eu me idealizo. Normalmente nos idealizamos melhores do que somos em muitos aspectos, por já conhecer as verdades cristãs, por saber o que é certo e errado etc. O que ocorre na prática é que as máscaras não se sustentam indefinidamente e, cedo ou tarde, percebemos a nossa indigência e aí, nos idealizamos piores do que somos, e nos colocamos em posição inferior. Percebemos que o ser superior ou inferior só existe em nossas mentes conflituosas. Tanto uma posição quanto a outra está distante da realidade.

Já o EU REAL é a forma como estou realmente, com limitações, potencialidades e possibilidades já ou a serem desenvolvidas. O eu real não é melhor, nem pior do que muitas vezes acreditamos. A realidade é que temos virtudes desenvolvidas e a serrem transmutadas. Essa é a condição do todo ser humano até que se liberte totalmente do Ego e se torne um espírito puro.

Esse conflito entre aquilo que se é e o que se pensa ser gera grandes obstáculos à prática do autoamor.

É fundamental que desenvolvamos um eu ideal como modelo, mas apenas como referencial e não como uma exigência. Não se pode exigir a idealização de forma abrupta, pois desse modo ela se torna ilusão como disse Jesus em Lucas 8,18: “Vede, pois, como ouvis, porque a qualquer que tiver lhe será dado, e a qualquer que não tiver até o que parece ter lhe será tirado.”

Pergunta 625 de O Livro dos Espíritos:
Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido aos homens, para lhe servir de guia e modelo? – [...] Jesus [...]

Toda modelagem inicia-se quando idealizamos, isto é, produzimos uma ideia, pensamos e, a partir daí, sentimos, gerando emoções, posteriormente, realizamos, por meio dos nossos comportamentos, tornando concretos os pensamentos por meio de atitudes.

As ideias ou pensamentos podem surgir em duas fontes:

1)    No Ser Essencial originados do Amor = comportamento equilibrado. Quando idealizamos situações que podemos conseguir e nos esforçamos para realizá-las estamos agindo em conformidade com o Essencial em nós mesmos.

2)    – No Ego, a partir do desamor, ou pseudoamor = comportamento desequilibrado. Quando idealizamos, de forma ilusória, questões que ainda não conseguimos realizar e passamos a fingir que as realizamos em um jogo de faz-de-conta, estamos simplesmente cultivando a idealização egoica, falsa em si mesma.

Assim temos os conceitos de idealização e realização, onde:

·        Idealização é a ação para se criar, mentalizar ideias. A mentalização das ideias acontece no plano das potencialidades, isto é, a ideia só existe enquanto potencial, um ideal a ser realizado. Ex. Jesus é o ideal de perfeição que podemos almejar. Buscar a perfeição de Jesus é um ideal a ser realizado.
É importante diferenciar a idealização real, um movimento essencial, da idealização fantasiosa, um movimento egoico, que é um tipo de idealização impossível de ser realizada, pelo menos naquele momento.

Ex.: exigir de si mesmo, de uma hora para outra, atitudes iguais às de Jesus. Esse ideal é impossível de ser realizado de forma abrupta, apenas acontecerá com o tempo.

·        Realização é a ação para se tornar real, concreta a ideia. A realização das ideias e do ideal está no plano das possibilidades, isto é, as ideias ou ideais podem ser realizadas ou não.  
Num ponto de vista transcendente, todos os ideais de amor, de desenvolvimento do bem, do bom e do belo em nós mesmos serão realizados. A questão é que esse potencial é desenvolvido de forma gradativa, ao longo do tempo, nas várias oportunidades de vidas sucessivas que temos para realização desse mister.
A idealização, quando egoica cria inúmeras distorções, pois fantasia e mascara a realidade, criamos, então, as figuras do eu idealizado, mascarado em oposição ao eu real, fator extremamente nocivo que estará impedindo, transitoriamente, a prática do autoamor.


Como posso resolver esse conflito entre o ideal e o real?

Usando um recurso sugerido pelo próprio Cristo “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação” Mt. 26,41.

Vejamos o que diz a mentora Joanna de Ângelis: “Jesus, na condução de excepcional Psicoterapeuta, recomenda a vigilância antes da oração, como forma de auto-encontro, para depois ensejar-se a entrega a Deus sem preocupação outra alguma. (O ser consciente p.82)

Alírio sugere uma técnica para que possamos desenvolver de forma prática essa máxima de Jesus e a denomina técnica P.A.R.D.A. para exercitar o amor.:

·        P – PERCEPÇÃO: é o primeiro passo no processo da vigilância, pois não podemos mudar algo que não percebemos.
Neste item é importante estarmos atentos às seguintes questões:

A percepção deve ser isenta de julgamento de certo ou errado

A percepção deve ser fruto de uma observação amorosa de nós mesmos.

O sentimento amoroso da compaixão em substituição ao julgamento vai nos auxiliar a aceitarmos a nós mesmos do jeito que somos e aos outros como eles são, compreendendo as atitudes egoicas que temos e que os outros têm.
A realidade, para nós, não é perfeita ou ideal ainda, mas é passível de ser aperfeiçoada a cada instante, já que se busca sempre um ideal a ser realizado.
O real vai estar cada vez mais próximo do ideal, quanto maior for nosso esforço.
É necessário todo um exercício da vontade, com persistência e perseverança, para tornarmos cada vez mais o real ideal e o ideal passível de ser realizado.

·        A – ACEITAÇÃO: a partir da percepção é necessário aceitar plena, amorosa e incondicionalmente os movimentos egoicos, geradores das tentações e que nos impedem de sermos equilibrados.
Aqui nos deparamos com o sentimento egoico muito comum que é o orgulho manifesto ou disfarçado. Esse movimento egoico nos impede de aceitarmos e, muitas vezes, até de percebermos nossas limitações.
A aceitação é uma virtude proativa que requer uma atitude de humildade para reconhecer nossas limitações. É preciso aceitar que somos pessoas em processo de aperfeiçoamento, portanto não perfeitas ainda.
Em razão de sua proatividade, a partir da aceitação de suas limitações como uma necessidade a ser atendida, é essencial se questionar: O que eu posso fazer para mudar esse sentimento que me impede à prática do amor?

·        R – REFLEXÃO: nesta fase do processo estaremos respondendo à questão anterior.
É necessário refletir, plena e conscientemente, acerca de todas as questões que foram percebidas na fase da percepção, dos autojulgamentos que fazemos, das idealizações fantasiosas, do orgulho que sustentamos etc.

·        D – DECISÃO: após a reflexão é preciso tomar a decisão plena e consciente do que fazer para iniciar o trabalho de ressignificação dos nossos movimentos egoicos.
Sabemos que mudar hábitos limitadores adquiridos ao longo de nossa trajetória de vida não é uma tarefa fácil, pois o movimento egoico torna-se um vício retroalimentado, que, por mais desagradável que seja, gera uma zona de conforto.

·        A - AÇÃO: uma vez tomada decisão de mudança, torna-se essencial a ação plena e consciente para a substituição gradativa e suave do movimento impeditivo da prática do amor pelo movimento essencial proativo da prática do amor.
É importante nesta fase estabelecer um plano de ação, começando a se trabalhar com os movimentos egoicos mais simples e fáceis de transmutar e, à medida que vamos obtendo sucesso, buscarmos outros hábitos egoicos mais enraizados para, aos poucos, irmos transmutando.
Importante, porém, atentar que para o processo de mudança ser realmente efetivo, este deverá ser um processo suave e leve conforme Jesus nos ensinou ao falar do jugo suave e do fardo leve.
Se a mudança estiver sendo pesada alguma coisa deve estar errada na sua realização.

Para se conseguir mudança com leveza, a ação vai passar por quatro fases, quais sejam:

1º Fase da mudança: esta fase é de aprendizado, na qual a pessoa reflete sobre os seus erros e aprende com eles.

2º Fase da mudança: as reflexões começam a surgir durante a manifestação do movimento egoico, possibilitando que o indivíduo possa analisá-la melhor com o intuito de poder superá-la.

3º Fase da mudança: as reflexões começam a surgir antes da manifestação do movimento egoico, possibilitando ao indivíduo escolher entre praticá-la ou não. Para esta fase do processo de mudança elaboramos uma técnica vivencial que denominamos vigilância interior.

4º Fase da mudança: o indivíduo começa a perceber que as manifestações do movimento egoico, o qual ele está trabalhando, vão se tornando cada vez mais raras até a completa efetivação da mudança, na qual as suas manifestações já não ocorrem mais, porque se efetivou a transmutação do sentimento egoico em um valor essencial.

Esta técnica, com todas essas fases, é uma forma didática para se definir a ação consciente, diferenciando-a da ação impulsiva egoica.

 Livro: Psicoterapia à Luz do Evangelho de Jesus. Segunda edição                                                                                                                                                 






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